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Nasceu no Brasil, tem ascendência de Portugal, adotou sobrenome italiano, fala inglês mas gosta mesmo é de French kiss. Circula pelo território livre da USP e pelas comunidades, nossas favelas e seus saraus periféricos, inclusive até na Paulista.
Quando não sei o que sinto
sei que o que sinto é o que sou
Minha vontade não cria: decifra
Gruda em tudo
mas não cola em nada
Se comigo coincido
de mim logo suspeito:
sei que um dos dois é fingido
Sei que o que piso é meu chão
Onde não há chão normal
Mas o que sabe e o que sente
se revelam misteriosos
E o que escreve é o que mais mente
Pois onde me delimito
já não sou mais o que sou
mas tão somente me imito
Penetrável labirinto
mas apenas me pressinto
em cujo centro não estou
O mapa de onde não vou
De ponto a ponto rabisco
ligando de risco em risco
meus equívocos favoritos
Tudo que sou é um acúmulo de escritos
Mero signo, simples mito
Minha vontade é o que vivo
Só isso: dou um golpe de verbo
Livro vivo. É isso.
E quando quero o que não quero
Sei que estou vivo
E não desespero
Porque não consigo dizer
a verdade esquiva e impura:
a verdade não é literatura
Porém a verdade sentida e pura
Essa também é só literatura
Li-te-ra-tu-ra
Claudio Laureatti
Comprido demais para ler: não para para ler
Sinto falta do meu cérebro pre-internet
Máquinas estão falando de você pelas costas
A internet reduz as pessoas a escolherem entre likes e dislikes
A internet induz as pessoas a escolherem entre a ciência e a religião da internet
Meu senso de comunidade agora é um site que visito dois minutos antes da meia-noite
Jovens hiperconectados são monstros situados às vezes a menos de um metro de você e 900km longe de você
É um mundo hiperconectado: parecer ou ser classe média nunca foi tão divertido – a tecnologia favorece gente horrorosa.
Guarde como tesouro qualquer coisa que não puder fazer download
Não se lembrar de nada que seja obrigatório está se tornando obrigatório
É obrigatório hoje em dia guardar como tesouro aquilo que não é possível de fazer download
A internet induz as pessoas a escolherem entre a ciência e a religião da internet
A internet reduz as pessoas a escolherem entre likes e dislikes
Gostar não é votar
Um por cento de socialismo via eleitoral é um por cento de socialismo via eleitoral
A história já não é mais uma ferramenta para compreender o presente?
Ler os clássicos dos cérebros que leram os clássicos não ajuda ninguém neste século ?
Nunca fomos tão inteligentes
Nunca fomos tão estúpidos
Nunca fomos tão interessantes
Nunca fomos tão entediantes
Sentir-se único não é ser único
Seu blog é fútil
E se houvesse uma droga que fizesse você parecer menos com seu FakeBook e mais com você?
E se você soubesse que faz parte da última geração que vai morrer ?
Não é ilusão: o tempo está se movendo mais rápido, faster, mais rápido, faster
Fast young people are monsters
Eles estão fotografando a salada de pepino do almoço de hoje
Aos 15 anos falar e não fazer tem certa graça
O máximo de tempo de atenção que você consegue equivale à duração de uma canção dos Beatles ?
Confundir caos com liberdade é embaraçoso
O futuro ama você porém não precisa de você
O futuro tem ar condicionado sob sol a pino e não cheira o fedor desse (d)esgo(s)to a céu aberto chamado Rio Pinheiros: cheira bem pior – cheira a desastre ambiental
Pessoas fazem o capitalismo
Pessoas fazem mal ao capitalismo
Adolescentes em passeatas ficam com hematomas e quando negros, são chamados de macacos, e quando presos, mais hematomas, e quando gays, mais hematomas, e quando pobres, ninguém mais viu
Que todos os dias da sua vida sejam 10 de setembro
Que todos os dias de sua vida sejam 12 de setembro
Você sabe que o futuro está chegando quando começa a ficar com medo
Fuma? Bebe? quer filhos? sente falta do cérebro pre-internet desconectado/desligado do consumismo?
A vida não é uma entrevista de emprego. Viver é contar histórias. Viver é viver histórias. Em carne e osso. In the flesh.
Youtube or not to be ?
Opostos se atraem segundos antes de se atacarem
Estamos cada vez mais aprendendo a nos odiar à distância: cresceu o número de troca de e-mails.
Vontade de ser seu outro
Fazer amor no chuveiro da rua
Fazer poesia ao olhar pra lua
Vontade de ser seu amor
pra ver de manhã você
caber naquele vestidinho de flor
Vontade de ser seu amante
enquanto seu amado corre corre
corre atrás do próprio rabo
Vontade de falar no seu ouvido
e sentir seu riso seu espanto:
"- Você deve ficar linda só de tamanco".
Vontade de ser seu manto
seu mantra sua rádio sua revelação
seu chocolate em formato de coração
Se sofres de Normose, isto é, nada pode sair do Normal, são muitas as pessoas acostumadas e até mesmo preocupadas de que tudo tem que estar Normal sempre. Podes contar com o serviço Disk Analise...
Disque 1) Para amor próprio bem espezinhado, maltratado deveras
Disque 2) Fracasso financeiro, sem amor e sem dinheiro
3) Perversões sexuais recalcadas e/ou atos imorais inconfessáveis
4) Injustiças sofridas em silêncio
5) Lidar com contrariedades, idades e compulsividades
6) Complexo de inferioridade
7) Complexo de superioridade
8) Complexo de Complexidade
9) Comportamentos infantis que levam alguns a querer lhe aplicar a Terapia do Joelhaço ou Psicologia do Cotovelaço
Para ouvir todas as alternativas novamente aguarde um momento na linha...
Sentimos muito seu tempo de consulta está en-ce-rra-do
Temos aqui um remédio: poemas-pílulas !
Louco é você que está querendo me internar !
Há muitos anos nasci em São Paulo
Principalmente vivi em São Paulo
Por isso sou triste, triste, triste, orgulhoso: de Concreto
Noventa por cento de Concreto nas almas
Oitenta por cento com desconto pra Freguesia
E esse alheamento do que na vida é porosidade e globalização
A vontade de ganhar dinheiro que me paralisa o amor
vem de São Paulo de suas noites cinzas de Augusta lâmpada neon
100 mulheres 100 horizontes 100 perspectivas
E o hábito de contar dinheiro, que tanto me adverte,
é herança paulistana
De São Paulo trouxe prendas que ora te ofereço
Esta nova arte velha concreta rua de mão única
Este Cristo pixado no muro psicodélico onde se lê: "Revolução é vida!"
Este tapete de jornal mambembe estendido no sofá
Este orgulho, esta esperança cabisbaixa
Tive mercado, tive gado, hoje sou funcionário público nesse Estado
A estrela vermelha é apenas um quadro na parede
Mas como doi!
Extra! Extra ! Extraordinário ! Extra ! Extra !
Jornal última edição Últimas notícias
última mostra última moda
último centavo
Ultimato
Última hora
última chance último romance
última chamada
última morada
Último segundo
Último selo
último modelo
último abrigo
último pedido
última gargalhada
última palavra do último discurso
Último recurso
em última instância
A esperança é a última que move
A caridade é a última que morre
Meus últimos crimes estão sendo queimados...cremados...
Os últimos não serão sequer colocados...mencionados...
Meus heróis morreram de overdose
Ou na guerrilha
Inimigos estão no poder
Com o tempo aprovamos o que queremos
Fizemos alianças coleguismos políticos
Deu PT ( Perda Total)
Os heróis das estátuas também eles tem
nome RG e não cheiram bem
Ser burguês e estar do lado do povo
Quando tudo parecer perdido
é hora de recomeçar de novo
o novo pra sempre fugaz
Do sonho à utopia sempre tive razões
quando não tinha razão
Bati forte no meu peito admiti minha culpa
É sempre em casa que se lava a roupa suja
Na cidade de concreto armado armada até os dentes
gostaria de dizer algo bem diferente
Talvez em outro dia numa outra poesia
Nada foi como imaginei
E olha que nem comecei a falar de amor
São Paulo são Imigrantes no estado Terminal da nação
São Paulo meu amor por ti é Concreto: (e)difíci(o)
Amor é foda
Foda-se!
Duas casas de João-de-barro irregulares em frente à prefeitura
desafiam a lei da gravidade e a gravidade da lei
Urubus e carcarás volteiam e se revoltam uns com os outros
Quero-queros dão o alarme pouco a pouco:
sob um céu de chumbo aproximam-se as eleições
Da direita pra esquerda: os papagaios, os curiós e os sabiás-laranjeira
Tucanos são pombos, ratazanas aladas
Cardeais-do-nordeste, canários da terra espantam o gavião-carijó em irresistível revoada
Os olhos de águia das arapongas se aninharam e maritacam desculpas
Tico-ticos ciscam para chupins e piam que política é coisa miúda
Ensolarar você
Código postal
Ser vivo é um ser que come propaganda
Folders de batata suíça Esfiha delivery
Feijoada completa marmitex pizza
Enquanto passei férias a que fiz jus
haviam invadido meu escaninho
contas de luz, IPVA, imãs de geladeira, disk água
Mala direta, telegrama do banco
Fechamento autorizado urgente
Lançamento de livro, panfleto político
Aviso de carta registrada na recepção
Favor deixar chave para manutenção
Promoção de revistas, carta comercial
No meio dos envelopes seu cartão postal
Agora são milhões de passos
separando minha casa do labirinto estrangeiro
Acordam as avenidas, as tabuletas, os letreiros
o pão francês, o rádio e a televisão em português
As cartas que eu não mando são poemas
deixados pra você na sua caixa de e-mails
Verdade seja dita: saudades não se matam com palavras escritas
Hoje eu deleto, antes eu rasgava
porém o amor continua dando as cartas lá em casa
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